Saiba tudo sobre o primeiro e mais antigo Cemitério em atividade do Brasil, sua história e fatos marcantes.
O Brasil é um dos países que mais possuem cemitérios em todo o mundo, sendo um dos fatores principais para esse fato, a grande extensão territorial que possuímos.
São diversas necrópoles localizadas nas grandes e pequenas cidades do país, cada uma com sua particularidade, repletas de histórias, fatos e características marcantes.
Mas, você sabe qual foi o primeiro cemitério construído no Brasil e que até os dias de hoje continua em atividade?
Estamos falando sobre o British Burial Ground, conhecido popularmente como Cemitério dos Ingleses, fundado no ano de 1811 é o cemitério a céu aberto mais antigo do Brasil e que segue em funcionamento até os dias atuais.
Localizado no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da Gamboa, a necrópole faz parte da história não somente do bairro mas da cidade carioca.
História
Devido a chegada em 1808 da Família Real Portuguesa ao Brasil, juntamente com o decreto que concedeu a abertura dos portos às nações que Portugal mantinha um vínculo de amizade, logo, diversos britânicos chegaram ao Rio de Janeiro.
Um dos fatos que mais contribuiu para essa vinda dos ingleses a cidade do Rio de Janeiro, foi o fato do local na época ser a capital colonial do Brasil, transmitindo assim uma maior sensação de segurança aos visitantes.
Eram em sua maioria Protestantes e Anglicanos, portanto, não poderiam realizar velórios e sepultamentos dentro das igrejas católicas, sendo sepultados em locais diversos.
Problema que logo foi solucionado pela representação dos britânicos no Brasil, com a solicitação junto ao Príncipe Regente Dom João no ano de 1810 para que construíssem um Cemitério para os britânicos, além de um Tempo Anglicano.
Pedido que foi atendido rapidamente pela corte, devido ao tratado de Amizade e Comércio Portugal-Inglaterra, sendo que no mesmo ano, Lord Strangfort que era um dos representantes mais altos dos britânicos no país, adquiriu terras para essas construções.
Construção
Pertencentes a Simão Martins de Castro, denominadas de “Forno do Cal”, estavam localizadas no bairro da Gamboa, a beira-mar, num local considerado até então distante da cidade e sendo assim, com mais segurança.
Após algum tempo para que conseguissem a liberação para o uso da terra em processos funerários, sendo que no ano de 1811 foi registrado o primeiro sepultamento do local.
O cemitério com seus aproximadamente 4 mil metros quadrados ainda possuía uma espécie de atracadouro próprio, sendo utilizado para o desembarque tanto de oficiais, como marinheiros britânicos que morriam durante a realização das travessias pelo Oceano Atlântico.
Após algum tempo, o local antes com poucas construções ao redor do cemitério, passou por um período de evolução, atraindo diversos britânicos e portugueses de classes mais altas, transformando o bairro em uma área valorizada da época.
Isso se devia também a sua localização privilegiada, estava sobre a baía de Guanabara, fato que garantia aos visitantes que passavam pelo local belas vistas da cidade carioca.
Porém, com a construção do Porto do Rio de Janeiro no século XX, acabou que houveram diversas mudanças no visual do local, sendo a mais impactante a perda da vista para o mar, devido às construções realizadas ao redor.
Hoje, mesmo sendo uma necrópole tombada como Patrimônio do Governo Estadual, o local não é mais tão seguro e charmoso como antes, mas segue na memória dos moradores locais seus tempos áureos.
Há diversos relatos que mostram as belas paisagens que o local reservava, como descreve em seu diário no ano de 1823 a viajante e escritora inglesa Maria Graham.
“Fui hoje, a cavalo, ao cemitério protestante, na Praia da Gamboa, que julgo um dos lugares mais deliciosos que jamais contemplei, dominando lindo panorama em todas as direções.
Inclina-se gradualmente para a estrada ao longo da praia; no ponto mais alto, há um belo edifício constituído por três peças: uma serve de lugar de reunião ou às vezes de espera para o pastor; uma de depósito para a decoração fúnebre do túmulo e o maior, que fica entre os dois, é geralmente ocupado pelo corpo durante as poucas horas (pode ser um dia e uma noite).
Que, neste clima, podem decorrer entre a morte e o enterro; em frente deste edifício ficam as várias pedras e urnas e os vãos monumentos que nós erguemos para relevar nossa própria tristeza; entre estes e a estrada, algumas árvores magníficas. Três lados deste campo são cercados por pedras ou grades de madeira.
Na minha doença, muitas vezes entristecia-me por não conhecer este cemitério. Estou agora satisfeita e, se a fraqueza que ainda me resta, atirar-me aqui, os muito poucos que vierem ver onde jaz a amiga não sentirão o aborrecimento da prisão”.